cenas.vip

What the fork, man!

«Life now is so complicated, it’s impossible for anyone to be good enough for the Good Place. (...) These days, just buying a tomato at a grocery store means that you are unwittingly supporting toxic pesticides, exploiting labor, contributing to global warming. Humans think that they’re making one choice, but they’re actually making dozens of choices they don’t even know they’re making!» ‒ Michael em The Good Place. Quem ainda não viu esta série é um ovo podre.

Longe vão os tempos em que pagar os nossos impostos, separar o lixo, usar os transportes públicos, deixar água fresca na tigela do gato e ser correcto com os vizinhos era quanto bastava para passarmos no teste da decência humana. Hoje, sinto que estes são actos de babuíno face ao que é esperado que tenhamos em conta desde o momento em que lavamos os dentes de manhã até ao momento em que mandamos um simples e-mail. (Um só e-mail que mantenhamos na nossa Inbox liberta 4g de carbono equivalente! Nem sei em quanta poluição isto se traduz realmente, mas dá que pensar na vastidão de lixo electrónico que produzimos. Só eu, à data, tenho 4376 e-mails por abrir... and counting).

Absolutamente nenhum passo que dêmos, hoje, é simples e neutro, e é impossível darmos sequer um único passo confiançudo quando dia sim, dia não somos confrontados com mais conclusões científicas que nos dizem que não estamos a fazer o suficiente, ou que estamos a fazer mal. O número de R's da sustentabilidade a ter em conta só aumenta (já vai em 7 passos; quando eu aprendi sobre reciclagem na escola, há 20 anos, eram 3) e a minha experiência diz-me que existe uma relação directamente proporcional entre o número de R's e o número de erros que cometemos. E não é para menos: quando tudo o que é líquido se vai gradualmente transformando em sólido (porque tem menos impacto ambiental, pois menos transportes e tal), e tudo o que é sólido, como dizia Marx, se dissolve no ar, em que estado pode ficar a nossa consciência?

Chego a recear acordar um dia e constatar que até as palavras mudaram, e ver toda a gente a falar como o Jorge Jesus e a dizer todes em vez de todos/todas, ou como a Lili Caneças («não há tsunames, não há cheias, não há terramoços»).

Ah, espera...

#verdade-ou-mentira