O sabor alucinante dos InstaGra(ha)ms
A forma como eu vejo o Instagram é semelhante ao que imagino que sinta uma criança de 5 anos quando entra numa loja XXL de brinquedos, com mil e um estímulos diferentes a fulminarem-lhe o hipocampo. Enquanto a criança tenta assimilar a sua envolvente – em vão, claro –, estão os seus pais ao lado a fazer-lhe perguntas em catadupa sobre temas sérios da sociedade, como por exemplo «sabias que os fabricantes destes brinquedos todos só ganham um euro à hora?», ou «sabias que há golfinhos que morrem enrodilhados no plástico destas embalagens que vai parar ao oceano?»; e, sem nada o fazer prever, cai abruptamente uma cartolina amarela fluorescente enorme à sua frente com o anúncio FLASH SALE DE PANELAS DE FERRO FUNDIDO COM UM DESCONTO EXCLUSIVO DE 40% porque o algoritmo está todo comido.
É um mistério, para mim, como existem carreiras alicerçadas neste esquema de coisas, mas não posso negar que há aqui o mérito da persistência na apelação à atenção do outro, funcionando como um ataque de força bruta às nossas emoções: alguma coisa, ao final do dia, há-de resultar – nem que seja quando estivermos distraídos a empurrar o carrinho no supermercado; nem que seja quando estivermos a cair no sono; nem que seja quando estivermos sentados na sanita.