Em boca fechada
Dizem que as pessoas caladas são as mais perigosas. Perigosas, presunçosas, paternalistas em pensamento – é um julgamento que é rápido a sair para a mesa do canto, onde por norma se sentam aquelas que gostam de ficar a pairar. É uma coisa que adoramos fazer, afinal – meter as pessoas em caixinhas e cubículos, com rótulos bem laminados e plastificados, para caberem na nossa estreita visão. E como um julgamento nunca vem só, eis a desconfiança em relação às extremidades: ora porque cruzamos os braços enquanto (não) falamos, ora porque ocultamos as mãos atrás das costas, ora porque temos a displicência de plantar os cotovelos em cima da mesa. É verdade que tudo comunica algo sobre nós, mas também é possível que uma pessoa remetida ao silêncio esteja apenas a seguir a recomendação da OMS no que toca à prevenção de gripes, constipações e de tantas outras afecções (de cariz fisiológico e não só): em boca fechada não entra ar seco ou sujo, onde se incluem aqueles bitaites apreciadores de terceiros. Quanto às extremidades, no que me diz respeito, escolho assumir uma posição estritamente pessoal quando em público, numa relação proporcional que estabelece que as minhas mãos estão para o meu corpo como as dos outros estão para o corpo deles. Se isto não quer dizer nada, é mesmo porque deveria ser tão simples assim. O ar é de todos, mas as minhas mãos são minhas.