A cada um, o seu
Os anos passam, e o que me pareciam lanças apontadas à minha identidade ganham gradualmente o dom do arrendondamento, o que tem tanto de belo como de trágico. Tudo se agrava mas também tudo se aprende a relativizar e até a aceitar que incomode um bocadinho nos escaninhos – que a natureza é dona disto tudo e não gosta muito que a chateiem sem necessidade, então calamos e aprendemos a estimar dores, as verdadeiras dores de crescimento. São acompanhadas pela convicção de que, afinal, não existe nada padrão; existe só o que é melhor para cada um. É assim tão óbvio para todos? Então, deixo mais uma lapalissada, que a redundância faz a força: o que é melhor para mim pode ser pior para o outro (variação de o lixo de uns é o tesouro de outros). Do ananás na pizza até às grandes decisões pessoais, as prescrições devem limitar-se a ser medicamentosas, e a linearidade, ou a ausência dela, uma escolha como outra qualquer. Devo, portanto, fazer a minha pesquisa, tirar as minhas conclusões e adoptar consoante os meus valores e as minhas circunstâncias. As comparações com os outros morrem no berço.